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Nova tecnologia com RNA mensageiro reativa vírus latente e aponta caminho para possível cura do HIV

Pesquisadores australianos desenvolvem nanopartículas capazes de despertar o vírus "adormecido" em células do sistema imunológico; avanço representa nova esperança no combate ao HIV


Redação Tribuna do Planalto Por Redação Tribuna do Planalto em 15/06/2025 - 17:05

Nova tecnologia com RNA mensageiro reativa vírus latente e aponta caminho para possível cura do HIV
Por enquanto, o método foi testado apenas em células isoladas e amostras de sangue de pacientes. (Foto: Reprodução)

Pesquisadores australianos deram um passo importante rumo à cura do HIV com o desenvolvimento de uma nova tecnologia baseada em RNA mensageiro (mRNA). Publicado em 29 de maio na revista científica Nature Communications, o estudo apresenta um método inovador de encapsulamento de mRNA em nanopartículas lipídicas, capazes de ativar o vírus em estado de latência — fase em que o HIV permanece escondido dentro das células, sem ser detectado pelo sistema imunológico.

Esse estado latente é um dos maiores desafios no tratamento da infecção, pois, mesmo com a terapia antirretroviral — que reduz a carga viral e evita a progressão da Aids —, o vírus persiste nas células do sistema imune, como os linfócitos T CD4+. A proposta dos cientistas foi justamente despertar essas células infectadas, usando proteínas sintetizadas a partir do mRNA, para que o HIV se torne visível ao organismo e possa ser combatido com os medicamentos já existentes.

A inovação se baseia em nanopartículas que entregam o mRNA diretamente nas células-alvo. No laboratório, os testes mostraram que a tecnologia é capaz de transportar duas proteínas específicas que induzem a transcrição do genoma viral, quebrando o estado de latência. Segundo os pesquisadores, essa reativação permite ao sistema imunológico, com o auxílio de remédios antirretrovirais, eliminar o vírus de forma mais eficiente.

Por enquanto, o método foi testado apenas em células isoladas e amostras de sangue de pacientes. A próxima fase inclui testes em modelos animais, e, se os resultados forem positivos, ensaios clínicos com humanos. Para Claudio Cirne-Santos, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), “essa pesquisa nos desperta esperança de uma possível cura do HIV no futuro”.

Cerca de 40 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo. No Brasil, a prevenção combinada é uma das estratégias mais adotadas, incluindo o uso de preservativos, a PrEP (profilaxia pré-exposição), a PEP (profilaxia pós-exposição) e o tratamento precoce para evitar novas infecções.

Novos medicamentos, como o lenacapavir — uma profilaxia injetável de longa duração — também têm ampliado as possibilidades de prevenção. Em ensaios clínicos, a aplicação semestral do remédio mostrou-se mais eficaz que o regime oral diário com tenofovir e entricitabina. Entre os usuários do lenacapavir, a taxa de infecção foi quase dez vezes menor.

A professora Monica Gomes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que a prevenção e o tratamento devem andar juntos. “Oferecer a prevenção que se adeque melhor à necessidade da pessoa parece ser a chave para o sucesso”, afirma. Segundo ela, começar o tratamento logo após o diagnóstico também é fundamental para proteger o paciente e interromper a cadeia de transmissão.

Combinando estratégias modernas de prevenção e terapias promissoras como a ativação do HIV latente, o cenário global avança, cada vez mais, em direção ao objetivo final: a cura do HIV.

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