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Brasil é confirmado como o país mais miscigenado do mundo, com impactos diretos na saúde pública, aponta estudo

Diversidade genética exige políticas de saúde personalizadas e equitativas, destaca médico; entenda


Redação Tribuna do Planalto Por Redação Tribuna do Planalto em 20/06/2025 - 09:21

Brasil é confirmado como o país mais miscigenado do mundo, com impactos diretos na saúde pública, aponta estudo
Operários, de Tarsila do Amaral. (Foto: Imagem/Reprodução)

O Brasil acaba de ser reconhecido como o país mais miscigenado do mundo — e essa característica tem reflexos diretos na saúde pública. A conclusão vem de um estudo pioneiro liderado pela Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Science, que analisou 2.723 genomas de brasileiros de todas as regiões. Os resultados mostram que o genoma médio da população é composto por 60% de ancestralidade europeia, 27% africana e 13% indígena, com mais de 8 milhões de variantes genéticas inéditas identificadas.

Para o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles, a pesquisa reforça a urgência de adaptar a medicina brasileira a essa realidade. “Reconhecer a diversidade genética do Brasil é apenas o primeiro passo. É essencial transformá-la em políticas de saúde que respeitem, incluam e atendam às especificidades de cada ancestralidade”, afirma.

As descobertas têm implicações práticas significativas: condições como hipertensão resistente, anemia falciforme e alguns tipos de câncer são mais frequentes em pessoas com ancestralidade africana. Populações indígenas, por outro lado, apresentam maior vulnerabilidade ao diabetes tipo 2, infecções e carências nutricionais, enquanto indivíduos com herança europeia têm maior predisposição a doenças autoimunes, como esclerose múltipla e doença celíaca.

“A medicina de precisão, que considera fatores genéticos, representa uma revolução necessária — mas ainda distante da realidade da maioria dos brasileiros”, observa Dr. José Israel. “O desafio não está apenas no DNA, mas no acesso. Grupos historicamente marginalizados seguem enfrentando subdiagnóstico, dificuldades para realizar exames genéticos e exclusão dos protocolos clínicos”, complementa.

O médico defende que o estudo deve servir como base para políticas públicas mais eficientes. “É necessário estabelecer diretrizes que preparem o sistema de saúde para lidar com essa complexidade. Isso envolve ampliar bancos de dados genômicos, assegurar a inclusão de todas as etnias em pesquisas clínicas e capacitar profissionais para interpretar essas informações com responsabilidade.”

Para Dr. José Israel, o Brasil tem a oportunidade de se tornar referência em um modelo de saúde pública mais justo e personalizado. “O genoma brasileiro é um mosaico. E cada peça desse mosaico merece atenção. A medicina do futuro será aquela que enxergar cada cidadão como único, e não como uma estatística genérica.”

Além de um traço cultural, a miscigenação se revela um desafio científico e uma chance de repensar estruturalmente o cuidado com a saúde. Agora, o país precisa transformar esse conhecimento em ação.

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