Vereadores de oposição da Câmara Municipal de Anápolis estão tentando, com dificuldade, reunir assinaturas para abrir uma Comissão Especial de Investigação (CEI) com foco na Operação Máscara Digital, deflagrada pela Polícia Civil de Goiás (PCGO). O motivo seria, segundo a investigação que aponta um esquema criminoso de difamação política por meio de redes sociais e grupos de mensagens, que a estrutura pública poderia estar sendo usada para atacar pessoas. O prefeito Márcio Corrêa (PL), inclusive, foi citado em inquérito que o põe como suspeito de comandar o grupo digital ofensivo e coordenador do conteúdo publicado pelo perfil “Anápolis na Roda”.
Em meio ao avanço da tentativa de instalar a CEI e do pedido de investigação, Márcio Corrêa se manteve em silêncio, inclusive, indo à Europa. Tudo começou quando ele foi anunciado como integrante da comitiva do vice-governador Daniel Vilela (MDB) em viagem oficial ao continente europeu, com destinos na Estônia, Finlândia e, depois, Singapura, sob o pretexto de buscar inovações na área digital. A viagem gerou desconforto político por acontecer no exato momento em que o nome do prefeito era citado diretamente no inquérito e enquanto crescia a mobilização pela criação da CEI, o que fez com que a presença de Márcio chegasse a ser negada. No fim, a assessoria de Daniel Vilela afirmou que o chefe do Executivo de Anápolis foi, sim, para a viagem, mesmo não fazendo parte oficial da comitiva.
Enquanto isso, a Frente Parlamentar de Acompanhamento da Operação Máscara Digital realizou sua primeira reunião na última segunda-feira (26). O encontro contou com a participação de parlamentares que defendem uma apuração mais rigorosa sobre os supostos crimes cometidos a partir da estrutura do Executivo municipal. O grupo chegou a reunir seis das oito assinaturas necessárias para instaurar a CEI, mas sofreu uma baixa recente: a vereadora Thais retornou atrás e retirou seu apoio formal à investigação, reduzindo o número atual para cinco assinaturas válidas. Veja quem assinou: Luzimar Silva (PP), Domingos Paula (PDT), Alex Martins (PP), Fred Caixeta (PRTB) e Rimet Jules (PT).
Durante a reunião, foi deliberada a realização de uma audiência pública na Câmara, marcada para o dia 3 de junho. Autoridades, vítimas dos ataques e representantes da sociedade civil estão sendo convidados para participar. Além disso, os parlamentares decidiram visitar o delegado responsável pela investigação, Marcos Adorno, e o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), que recebeu o pedido de apuração formal envolvendo o prefeito, que só pode ser investigado com autorização do tribunal devido ao foro privilegiado.
O vereador Rimet Jules (PT), uma das vozes mais atuantes na frente parlamentar, criticou duramente a situação. “A população exige respostas. Estamos diante de um caso gravíssimo, com uso criminoso da estrutura pública para atacar adversários, manipular a opinião pública e esconder falhas da gestão. O mínimo que podemos fazer é garantir fiscalização firme, ampla e transparente”, afirmou. Ele também reforçou que as audiências devem dar à Frente um caráter investigativo semelhante ao de uma CEI, mesmo que a comissão formal não se concretize de imediato.
Depois de tudo, a única resposta formal da Prefeitura de Anápolis desde a deflagração da operação, foi a exoneração do então secretário de Comunicação, Luís Gustavo Rocha, preso na juntamente com o jornalista Denílson Boaventura e a servidora Elyssama Aires. Questionada por veículos de imprensa, a Prefeitura limitou-se a afirmar que “não foi notificada formalmente”. O silêncio também tem sido a ordem entre os aliados de Márcio Corrêa, que evitam entrevistas e manifestações públicas sobre o tema, incluindo o líder do prefeito na Câmara, Jean Carlos (PL), que foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem. Ainda sobre a viagem de Márcio Corrêa, a informação que circula nos bastidores é de que ele volte ao Brasil neste final de semana, 31 de maio ou 1º de junho, mas a reportagem também não conseguiu a informação oficial.
Domingos Paula (PDT), também citado entre os alvos dos ataques virtuais, por sua vez, afirma que a repercussão dos danos causados vai além da política. “Foram prejudicadas pessoas do bem, destruídos casamentos, pessoas perderam emprego e houve perseguição política. Quando o político é atacado, o estrago é maior. Por isso, quero pedir aos investigadores que deem prosseguimento e informem a população”, disse.
Nos bastidores da Câmara, o temor é de que o conteúdo apreendido nos celulares investigados possa atingir outros agentes políticos, inclusive vereadores que ainda não foram citados formalmente. Há receio de que a Operação Máscara Digital se desdobre em novos inquéritos, desestabilizando ainda mais a base de apoio do governo municipal. Por ora, a Frente de Acompanhamento segue mobilizada, com expectativa de que o apoio popular às audiências e o surgimento de novas evidências possam pressionar os indecisos a assinarem a CEI.
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