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Porto Seco de Anápolis: ententa o enredo da polêmica envolvendo Aurora Eadi e o Poder Público

Ambos os lados justificam suas posições


Avatar Por Carlos Nathan em 17/04/2025 - 14:46

Aurora Eadi Anápolis
A Aurora Eadi realizou uma coletiva enérgica nesta quarta-feira (16). (Imagem: Reprodução/Youtube)

Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (16), a empresa Aurora Eadi rompeu o silêncio e fez duras críticas à Prefeitura de Anápolis e ao governo estadual. A fala dos representantes foi direta: segundo eles, há perseguição institucional e favorecimento a um grupo econômico concorrente — especificamente, o atual operador do Porto Seco da cidade. Com palavras fortes como “molecagem”, “tumultuar”, “infantil” e “palhaçada”, a diretoria da Aurora Eadi, empresa fornecedora de serviços logísticos, com foco na indústria farmacêutica e de saúde, exigiu um posicionamento claro da gestão do prefeito Márcio Corrêa (PL), a quem responsabilizam por postergar, sem explicações, o Alvará de Funcionamento necessário para iniciar suas operações.

Vale lembrar que a tensão existe há, pelo menos, 5 anos, e ronda o futuro da Aurora Eadi no Porto Seco de Anápolis desde 2018. Na coletiva, informada que trataria de “todos os reais motivos que têm impedido a abertura da empresa e início das atividades no munícipio de Anápolis”, as falas contundente partiram da diretora e acionista da Aurora, Paola di Gregório, que disse ter feito tudo o que a lei exige — mas não conseguiu operar porque o Poder Público, segundo ela, não entrega o básico: o alvará de funcionamento. “Não deram prazo, nem justificativa. Queremos data, justiça e dignidade. Não somos menos que ninguém”, declarou diante de jornalistas.

O prefeito Márcio Corrêa (PL), embora ainda não tenha se pronunciado formalmente, se vê no epicentro de uma crise que não começou em sua gestão, mas cuja resolução depende agora exclusivamente dele. Por trás do embate, está uma longa novela envolvendo decisões administrativas controversas, suspeitas de favorecimento político, disputas judiciais bilionárias e acusações que vão de tráfico de influência a atuação ilegal de servidores municipais.

O início: uma licitação e uma guerra de bastidores

Tudo começou em 2018, quando a Receita Federal realizou uma licitação para definir quem assumiria o controle da área alfandegada do Porto Seco de Anápolis. A vencedora foi a Aurora Eadi, que prometia inovação, redução de custos logísticos e geração de empregos. A atual operadora, o Grupo Porto Seco Centro-Oeste (PSCO), perdeu a disputa, mas desde então contesta judicialmente a validade do processo. Chegou a apontar a suspeição do juiz responsável — que, de fato, acabou afastado pelo CNJ.

A partir daí, iniciou-se uma sequência de impasses administrativos, técnicos e jurídicos que impediram a Aurora de efetivamente assumir o controle da operação, mesmo tendo vencido a licitação. A empresa, que já atua no Amazonas, começou a construir sua base em Anápolis, mas logo esbarrou em entraves para obter o alvará de funcionamento — documento indispensável para que a Receita Federal autorize o alfandegamento.

O “alvará condicionado” e o decreto

Em 2023, a gestão do então prefeito Roberto Naves (Republicanos) tentou acelerar o processo criando, por decreto, uma figura jurídica inédita no município: o “alvará condicionado”. O artifício, proposto pelo ex-secretário de Habitação e Planejamento Urbano, Daniel Fortes, permitia que uma empresa iniciasse obras sem apresentar o tradicional Atestado de Viabilidade Técnico Operacional (AVTO), exigido por lei para empreendimentos com alto impacto ambiental e viário.

A Aurora foi a primeira — e única — empresa a se beneficiar da medida. A justificativa era a urgência econômica da instalação do novo porto seco. A obra foi feita, mas o alvará definitivo nunca saiu. Quando a nova gestão assumiu em 2024, o secretário atual, Thiago Sá, revisou o caso e declarou que o alvará jamais deveria ter sido emitido, mesmo em caráter condicionado. Listou pendências junto à Goinfra, VLI, órgãos ambientais e apontou falhas no processo de regularização da construção.

O caso ganhou contornos ainda mais polêmicos quando veio à tona que uma engenheira concursada da Prefeitura, Sóstena Mariano, passou a representar a Aurora em trâmites oficiais, mesmo estando vinculada ao poder público. O Ministério Público de Goiás (MPGO) e a Polícia Civil foram acionados, e investigações apontam possível conflito de interesses. Documentos da PGM indicam que Sóstena protocolou recurso em nome da Aurora no início de 2025, tentando destravar o processo administrativo.

Paralelamente, a empresa passou a investir pesado em comunicação. Lançou campanhas publicitárias, contratou influenciadores digitais, mobilizou empresários e agora usa a imprensa para sustentar a tese de perseguição institucional. Em um vídeo promocional, promete criar 1.500 empregos e reduzir em até 40% os custos logísticos em relação à atual operadora.

Nos bastidores, a prefeitura afirma que a empresa ainda não cumpriu integralmente as exigências técnicas. Fontes do jurídico municipal dizem que, se a Aurora estivesse realmente sendo lesada de forma injusta, já teria conseguido uma liminar na Justiça — o que, até agora, não aconteceu. “Eles sabem que o processo tem buracos que não passam numa análise séria”, afirmou um integrante da PGM, sob anonimato.

O cenário é ainda mais complicado por envolver figuras conhecidas do mundo político e empresarial. Franco Di Gregório, ex-presidente da Aurora e pai de Paola, já foi condenado por fraude em licitações e proibido de contratar com o poder público. Para contornar a situação, deixou a filha na administração da empresa. Do outro lado, o empresário Sérgio Hajjar, ligado ao PSCO, é acusado pela Aurora de tentar sabotar sua chegada a Anápolis. Ele nega qualquer atuação ilícita.

Enquanto isso, o atual prefeito Márcio Corrêa tenta equilibrar pressões políticas, interesses econômicos e suspeitas de irregularidade herdadas da gestão anterior. Internamente, parte de sua base aliada cobra definição sobre o caso — e até nomeações foram usadas como moeda de apaziguamento político.

Futuro da Aurora Eadi no Porto Seco

Com a obra pronta, mas sem alvará, a Aurora segue impedida de operar. A Receita Federal, por sua vez, aguarda a emissão do documento para iniciar o processo de alfandegamento. A Prefeitura diz que já listou todas as pendências, mas a empresa quer uma resposta definitiva, com data marcada e compromisso formal.

Enquanto a burocracia se arrasta, o Porto Seco de Anápolis continua sob gestão provisória do PSCO, e o imbróglio segue sem prazo para acabar. O que está em jogo, porém, é mais que um alvará: trata-se de uma disputa que expõe os limites entre o interesse público, a força do lobby e os atalhos usados por quem tenta driblar a legalidade em nome do “progresso”.