A cidade de Goiás celebrar os 280 anos da Procissão do Fogaréu, uma das mais antigas manifestações culturais e religiosas da Semana Santa no Brasil. Realizada sempre na Quarta-Feira Santa, à meia-noite, a encenação retrata a prisão de Jesus Cristo e transforma as ruas do centro histórico em um cenário de fé, silêncio e profunda emoção. O ponto alto da celebração está marcado para a virada da quarta (16) para quinta-feira (17), quando ocorre a tradicional procissão. Com apoio da Diocese de Goiás – Catedral de Sant’Ana e do Governo de Goiás, a tradição é mantida desde 1745 e atravessa gerações, reafirmando a força da religiosidade popular no estado.
Cerca de 40 homens encapuzados, os farricocos, saem da Igreja da Boa Morte carregando tochas e tambores, na em busca do Cristo. A procissão percorre becos e ladeiras sob olhares atentos de moradores e visitantes, que lotam a cidade nesta época do ano. A representação tem forte apelo visual e místico, marcada pelo som grave dos tambores, pelas sombras projetadas nas fachadas coloniais e pelo clima de introspecção.
A cada edição, o ritual é encenado por artistas locais que mantêm viva a memória coletiva da cidade. Além do aspecto religioso, o Fogaréu se tornou símbolo da identidade cultural da antiga capital do estado. A cerimônia não apenas emociona, mas também movimenta a economia local, com a chegada de turistas e a valorização das manifestações artísticas regionais.
Para celebrar a tradição, a edição de 2025 contará com uma programação especial e aporte financeiro voltado à estrutura e à valorização da cultura local. A cidade, tombada como Patrimônio Mundial pela Unesco, aposta no fortalecimento da Semana Santa como instrumento de preservação histórica e desenvolvimento sustentável.
Neste ano, a realização da Procissão do Fogaréu conta com um investimento total de R$ 399 mil. Do montante, R$ 200 mil foram destinados pela Secretaria da Cultura de Goiás (Secult), enquanto outros R$ 199 mil vieram por meio do Programa Goyazes, com patrocínio da Equatorial Energia.
Os recursos viabilizam a infraestrutura necessária para o evento, incluindo segurança, sonorização, montagem de arquibancadas e apoio logístico aos participantes. A celebração também contará com serviços de acessibilidade, como intérpretes de Libras, atendimento prioritário para idosos e pessoas com deficiência, reforçando o caráter inclusivo da manifestação cultural.
Mais do que uma encenação, o Fogaréu é um testemunho vivo da resistência cultural e da fé do povo goiano. A cada geração, novos participantes assumem o compromisso de manter viva essa herança, que mistura o sagrado e o simbólico, e conecta passado e presente em uma única noite de luz e silêncio.
A origem do Fogaréu e o simbolismo por trás da tradição
A Procissão do Fogaréu teve origem em 1745, trazida para a antiga capital do estado pelo padre espanhol João Perestelo de Vasconcelos Spíndola. Inspirada em tradições medievais da Europa, a encenação foi adaptada à realidade local e incorporada ao calendário religioso da cidade de Goiás. Desde então, a cerimônia acontece anualmente durante a Semana Santa, mantendo viva uma tradição que mistura elementos do catolicismo com expressões culturais brasileiras.
O cortejo representa a perseguição e prisão de Jesus Cristo pelos soldados romanos, simbolizados pelos farricocos — personagens encapuzados, vestidos com túnicas coloridas e carregando tochas acesas. Eles percorrem as ruas de pedra do centro histórico ao som de tambores, criando um ambiente de recolhimento e misticismo. O silêncio do público e o som ritmado da procissão reforçam o caráter simbólico do ritual, que convida à reflexão sobre os últimos passos de Cristo antes da crucificação.
Pelo seu valor histórico, artístico e religioso, a Procissão do Fogaréu é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil e integra a lista de bens que compõem o Sítio Histórico da Cidade de Goiás, declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 2001. O reconhecimento internacional reforça a importância de preservar essa manifestação única, que continua mobilizando fiéis, moradores e visitantes todos os anos.
Procissão dos Penitentes completa programação da Semana Santa
Além do Fogaréu, a cidade de Goiás realiza a tradicional Procissão dos Penitentes, outro momento marcante da Semana Santa. O cortejo é formado por fiéis que percorrem as ruas em silêncio, muitas vezes descalços e cobertos por túnicas brancas, em sinal de devoção e penitência. A procissão acontece geralmente na madrugada da Sexta-Feira Santa, trazendo um clima de introspecção e espiritualidade.
A caminhada é acompanhada por cânticos religiosos e reflexões sobre a paixão de Cristo. Ao contrário do Fogaréu, que é uma encenação, a Procissão dos Penitentes tem caráter puramente devocional. Juntas, as duas manifestações representam a força da fé e da tradição na cidade de Goiás, reafirmando o papel da religiosidade popular como parte essencial da cultura brasileira.
Serviço: Semana Santa na cidade de Goiás 2025
Datas: até 20 de abril (Domingo de Páscoa)
PRINCIPAIS EVENTOS:
- 16/4 (QUA) – 23h59 – Procissão do Fogaréu – saída da porta do Museu de Arte Sacra da Boa Morte..
- 17/4 (QUI) – 19h – Cerimônia do Lava-pés – Catedral de Sant’ana
23h – Procissão das Almas – Igreja de São Francisco de Paula
- 18/4 (SEX) – 10h – Cerimônia do Canto do Perdão Masculino – Igreja Nossa Senhora da Abadia
18h – Cerimônia do Canto do Perdão Feminino – Igreja de São Francisco de Paula
20h – Encenação do Descendimento de Cristo da Cruz – Largo do Chafariz (participação da Banda dos Bombeiros Militares de Goiás e do Coral Solo da cidade de Goiás) e Procissão do Enterro (Canto de Verônica e das Heús e o toque da matraca) com imagem de Nossa Senhora das Dores, esculpida por Veiga Valle.
- 19/4 (SAB) – 18h30 – Concerto de Páscoa – Santuário do Rosário
- 20/4 (DOM) – 10h – Missa Solene na Catedral de Sant’Ana, presidida pelo Bispo da Diocese de Goiás, Dom Jeová Elias
11h – Saída da quase bicentenária Folia do Divino Espírito Santo – Catedral de Sant’Ana
Programação completa: https://goias.gov.br/cultura/semana-santa-em-goias/programacao/