O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% a todos os produtos brasileiros exportados para o país. Na noite de quarta-feira (9), Bolsonaro publicou em suas redes sociais um versículo bíblico interpretado como crítica velada ao governo Lula: “Quando os justos governam, o povo se alegra. Mas quando os perversos estão no poder, o povo geme” (Provérbios 29:2).
Apesar do tom religioso, aliados confirmam que Bolsonaro avalia uma ofensiva diplomática para tentar reverter a medida. Segundo seus interlocutores, ele estuda abrir negociação direta com a Casa Branca, possivelmente por meio de um telefonema intermediado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado licenciado e apontado como pivô da crise. A iniciativa é vista como estratégia para conter o discurso da esquerda, que culpa a articulação de Eduardo nos EUA contra o STF (Supremo Tribunal Federal) pela sanção comercial.
A repercussão do tarifaço tem mobilizado a militância do PT, fortalecendo a narrativa de “defesa da soberania nacional” — tema em que Lula tem investido capital político. O presidente brasileiro anunciou que responderá com a nova Lei de Reciprocidade Econômica, que permite suspender concessões comerciais ou impor restrições a bens e serviços norte-americanos. Lula também rebateu a justificativa de Trump de déficit comercial com o Brasil, classificando-a como falsa, e defendeu a independência do Judiciário brasileiro diante das críticas do republicano ao julgamento de Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado.
Aliados do ex-presidente reconhecem, porém, os riscos da ofensiva diplomática: se Trump mantiver a taxação, o desgaste poderá se ampliar, consolidando na opinião pública a percepção de que o tarifaço decorre da atuação de Eduardo Bolsonaro. Há ainda preocupação de que qualquer negociação malsucedida sirva para reforçar o discurso da esquerda sobre a responsabilidade da família Bolsonaro pela crise, além de expor o ex-presidente a novos questionamentos judiciais no Brasil.