As investigações da Polícia Civil de Goiás apontam que o prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), pode ter participado ativamente de um grupo de WhatsApp utilizado para coordenar publicações difamatórias contra adversários políticos, em um suposto “grupo de fofoca” nomeado como “Café com Pimenta”. A apuração faz parte da Operação Máscara Digital e se baseia no inquérito policial nº 2506313221, revelado pelo jornal Anápolis Diário. De acordo com os investigadores, o grupo era composto pelo prefeito, pelo então secretário de Comunicação, Luís Gustavo Rocha, e pelo jornalista Denílson Boaventura.
O grupo teria armazenado mais de 800 arquivos, entre fotos, vídeos e documentos em PDF, agora sob análise das autoridades com uso do software MEDI, desenvolvido pelo CyberGaeco do Ministério Público de Goiás. As mensagens, segundo a polícia, não apenas demonstram conhecimento, mas também atuação direta do prefeito. Em uma das conversas, Márcio Corrêa compartilha um documento sobre a médica e suplente de vereadora Marcela Pimenta (Cidadania) com comentários depreciativos, e em seguida pergunta: “Bora soltar essa no Anápolis na Roda 3?”, sendo respondido com aprovação por Boaventura.
Os diálogos reforçam a tese de que o grupo de mensagens funcionava como um núcleo de instigação e comando de ataques pessoais. A ausência de mecanismos de proteção, como mensagens temporárias, e a clareza dos comandos do prefeito contribuíram para a robustez do material apresentado à 5ª Vara Criminal de Anápolis. A Polícia Civil solicitou ao Tribunal de Justiça de Goiás autorização para aprofundar as investigações, em razão da prerrogativa de foro de Corrêa.
Marcela Pimenta é uma das principais figuras atingidas pelo perfil “Anápolis na Roda”, ao lado do ex-prefeito Roberto Naves, da ex-secretária Eerizânia Freitas e dos vereadores Domingos Paula, Luzimar Silva, entre outros. A operação já resultou na prisão de três pessoas: Denílson Boaventura, Luís Gustavo Rocha e Elyssama Aires – esta última, embora não integrasse o “grupo de fofoca”, também estaria envolvida na manutenção das publicações ofensivas.
A crise política na cidade se agravou nos últimos dias. Com sete assinaturas já protocoladas, a Câmara Municipal está prestes a instaurar uma Comissão Especial de Investigação (CEI) para apurar a atuação do grupo por trás do perfil anônimo. A mobilização aumentou após a confirmação do envolvimento do prefeito nas conversas, segundo as mensagens periciadas. O vereador Rimet Jules (PT), último a aderir ao pedido, classificou os fatos como “gravíssimos, absurdos e lamentáveis”.
Enquanto o caso avança, Márcio Corrêa se prepara para uma viagem internacional. Ele embarca na próxima segunda-feira (27) com o vice-governador Daniel Vilela (MDB) para uma missão oficial na Estônia, Finlândia e Singapura. Corrêa será o único prefeito goiano na comitiva, que busca intercâmbio sobre inovação e digitalização de serviços públicos. A assessoria de Daniel confirmou a participação do prefeito na viagem.
Mesmo com a gravidade das denúncias e a pressão por respostas, Márcio Corrêa segue em silêncio. A única medida adotada foi a exoneração de Luís Gustavo Rocha, formalizada no último dia 20. Ao todo, a Polícia Civil já contabiliza 77 boletins de ocorrência relacionados ao perfil “Anápolis na Roda” e pede que outras vítimas procurem a delegacia.
Procurada pelo Tribuna do Planalto, a Prefeitura de Anápolis não retornou os contatos até o fechamento desta reportagem. Em nota enviada ao DM Anápolis, a administração municipal declarou que “não foi notificada formalmente” sobre qualquer investigação envolvendo o prefeito. O espaço segue aberto para manifestação das partes citadas.