Mesmo sob suspeitas e acusações que envolvem uso de perfis falsos para atacar adversários políticos, o prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), decidiu seguir com sua agenda internacional. Ignorando a imprensa e a polícia, o chefe do Executivo anapolino embarcou, com a mulher Carla Lima Correa, para uma missão oficial à Estônia, Finlândia e Singapura, ao lado do vice-governador Daniel Vilela (MDB). Ele será o único prefeito goiano na comitiva que visa discutir inovação e digitalização de serviços públicos.
A viagem ocorre no mesmo momento em que o prefeito é citado no âmbito da Operação Máscara Digital, que revelou seu possível envolvimento direto em um grupo de WhatsApp chamado Café com Pimenta. Segundo a Polícia Civil, o grupo funcionava como núcleo de difamação política, com orientações explícitas do próprio prefeito para ataques a opositores, entre eles a médica Marcela Pimenta, o ex-prefeito Roberto Naves e vereadores como Domingos Paula.
Além das mensagens comprometedoras, os investigadores analisam mais de 800 arquivos, entre vídeos e documentos, que teriam sido armazenados sem qualquer proteção digital. A robustez das provas levou o caso à 5ª Vara Criminal de Anápolis, e um pedido foi encaminhado ao Tribunal de Justiça de Goiás para aprofundar as apurações, dado o foro privilegiado de Corrêa.
Nos bastidores da política local, a ordem entre aliados do prefeito tem sido clara: silêncio absoluto. Um marqueteiro contratado teria orientado Corrêa a não se manifestar publicamente, nem permitir que aliados o façam. A estratégia, segundo fontes próximas, seria “esvaziar” o tema na opinião pública até que perca força. Para isso, uma operação nas redes sociais foi organizada às pressas na sexta-feira (23), com o uso de perfis falsos para tratar a investigação como “fofoca política” e tentar colar em adversários a pecha de ligação com o PT, em uma tentativa de mobilizar sua base mais conservadora.
Paralelamente, a Câmara Municipal se movimenta para instaurar uma Comissão Especial de Investigação (CEI). Com sete assinaturas já protocoladas, o clima é de tensão nos bastidores. Curiosamente, mesmo alguns dos vereadores mais atacados pelo perfil anônimo Anápolis na Roda têm evitado assinar a CEI, numa clara tentativa de evitar atritos com o prefeito.
Até o momento, a única medida oficial tomada foi a exoneração do então secretário de Comunicação, Luís Gustavo Rocha, preso junto ao jornalista Denílson Boaventura e a servidora Elyssama Aires. A Prefeitura de Anápolis, procurada por veículos de imprensa, não respondeu aos pedidos de esclarecimento. Em nota a um jornal local, limitou-se a dizer que “não foi notificada formalmente”.
Enquanto isso, Márcio Corrêa escolhe o silêncio e o exterior como rota de fuga temporária de uma crise política que, ao que tudo indica, está longe de terminar.