Uma das pautas pessoais que a presidente da Câmara de Anápolis, Andreia Rezende, destaca na entrevista é seu empenho em abrir caminhos para que outras mulheres possam vir também, “como outras abriram antes de mim”. Ela é a primeira mulher a ocupar a Presidência do Legislativo de Anápolis em mais de 100 anos de história. “É muito engrandecedor e uma responsabilidade muito grande e temos encarado esse desafio não apenas para ser um marco subjetivo ou pessoal, mas que realmente represente políticas públicas que abram caminhos para outras mulheres.” Uma delas incentiva a contratação de mulheres no mesmo número de homens, não apenas nos 30%, para que a Casa possa alcançar a paridade. Não há uma lei obrigando a contratação, mas há uma lei de autoria da vereadora, que estabelece uma política pública de incentivo. Ela também criou a Galeria das Ex-vereadoras, que conta com apenas 15 mulheres eleitas em Anápolis. “É muito pouco, e essa galeria serve para que as mulheres vejam que, mesmo que em menor número, nós estamos aqui.”
Por Andreia Bahia
A senhora declarou que o desafio de presidir a Câmara é maior do que imaginava. O que a surpreendeu?
Quando se senta na cadeira de presidente, percebe-se o peso da responsabilidade, a responsabilidade de representar um poder que reúne esse conjunto de todas as visões da cidade. O executivo não. Ele tem que condensar todas as situações dentro de uma figura, que é a do prefeito, do governador, do presidente. Mas o Poder Legislativo precisa abraçar todas as visões ideológicas, propositivas, bandeiras, e isso me levou a um senso de responsabilidade e de dedicação ainda maior. Foi interessante perceber isso, porque além das minhas próprias convicções, eu precisava entender as convicções de todos os demais. A presidência precisa receber isso e filtrar o que é mais importante, e foi desafiador, como eu disse.
O fato de ser mulher aumentou esse desafio?
Com certeza, pelo fato de ser mulher a gente encara muito mais desafios à frente do Poder Legislativo. Primeiro, porque não é comum que mulheres estejam à frente desse poder; segundo, existe preconceito, machismo, na maioria das vezes, muito velado, muito inconsciente até, mas ele existe. Os desafios de ser uma mulher dentro de um poder tão alto são reais.
Os cortes nas despesas da Casa foram bem recebidos? Qual economia já foi alcançada?
Nós tínhamos uma expectativa de duodécimos muito maior do que recebemos Três leis que foram aprovadas na legislatura passada aumentaram as despesas em 23% e o nosso duodécimo cresceu apenas 8%. E ele é nossa única receita para a folha de pagamento e toda a gestão da Câmara. Visto isso, percebendo esse desequilíbrio financeiro e a necessidade de se atender a Câmara municipal, tudo o que não era indispensável para o andamento da Casa nós cortamos, como buffet, ornamentação, diárias e, dentro dos gabinetes, infelizmente, tivemos que fazer cortes na verba indenizatória. Reduzimos R$ 230 mil por mês e estamos num período de equilíbrio financeiro ainda. Embora eu não tenha sido responsável unicamente pela aprovação dessas leis, o reflexo delas se deu na minha gestão, porque todas iniciavam os seus pagamentos na minha gestão. Esses cortes foram extremamente importantes para que a gente tivesse dentro da lei de responsabilidade fiscal.
A senhora declarou que o corte de diárias para vereadores e servidores seria para moralizar a Casa. Como os vereadores receberam os cortes, que envolveram também redução na cota de combustíveis?
Aqui eu tenho que fazer um reconhecimento público aos demais vereadores, os 22 vereadores que, apesar das dificuldades, porque vários cortes foram feitos, alguns para moralizar a casa, mas outros também de coisas importantes dentro da Casa, por exemplo, eventos, gráfica, uma série de coisas importantes para o desenvolvimento do trabalho de cada vereador. E isso não foi possível continuar. E apesar das dificuldades iniciais de compreender as demandas, quando eles compreenderam que era para que a Casa se adequasse à Lei de Responsabilidade Fiscal e que se não fazer isso incorre em um crime, eu tive muito apoio dos meus pares. Eu quero fazer um reconhecimento público a cada um deles, estamos agora nos adaptando a essas mudanças, as mudanças nos eventos da casa e as restrições em algumas situações. A Câmara ainda tem coisas específicas como, por exemplo, não temos veículos para todos os vereadores ainda, precisamos avançar muito em estrutura para os vereadores trabalharem, mas nós estamos fazendo o melhor dentro do que é possível do orçamento que temos hoje.
Nos primeiros meses do ano, a maioria das pautas tratava de monções e títulos de cidadania. Não haveria questões mais importantes para os anapolinos a serem tratadas na Casa?
Na verdade, eu tenho uma resposta muito bacana e positiva para compartilhar, que nós estamos tendo uma das legislaturas mais produtivas da história da Câmara municipal. Só esse mês nós tivemos mais de 500 proposições e a maioria delas, de cobranças e os serviços públicos e indicações de novas obras e de fiscalizações. O perfil da Câmara tem mudado. Eu acredito que moções e títulos de cidadania são importantes para reconhecer pessoas e ações importantes da cidade, mas o que é mais importante dentro do Poder Legislativo é discutir as demandas da cidade. E eu tenho incentivado isso. Primeiro, empoderando as comissões temáticas dentro da Casa, que não precisam ficar restritas apenas às votações e apreciações dos projetos. Nós precisamos discutir esses projetos dentro das comissões genéricas e as comissões de legalidade. Nós criamos novas comissões, a de Meio Ambiente, que é um tema extremamente importante dentro de Anápolis; a de Defesa Animal; a da Mulher e também a Comissão de Segurança Pública. Empoderando as comissões, trazemos as demandas e os temas reais da cidade para serem discutidos aqui. Estamos também incentivando os vereadores a fazerem audiências públicas de temas importantes a serem discutidos na cidade. Por exemplo, temas como a revitalização do Centro, pessoas em situação de rua, questões de postura de bares, de como vamos fazer a ocupação real e respeitosa dentro da legalidade da cidade e também do setor de entretenimento, sobre o terceiro setor. São ações que já estão acontecendo dentro da Câmara para que nós nos aprofundamos nesses debates. A essência da minha presidência, a grande promessa que eu fiz, foram duas: governar de forma republicana, respeitando tanto as bandeiras da oposição, situação e posições ideológicas, para que todo mundo dentro do parlamento tivesse voz para defender o que acredita, que não fosse uma presidência tendenciosa, parcial, independentemente da minha posição política. A segunda é aproximar a Câmara das demandas reais da cidade. Havia uma crítica muito grande de uma instituição muito longe das pessoas. Tanto que que mudei o slogan da Casa e preciso agora honrá-lo, que é “A Casa é Sua”. Para isso eu preciso homenagear as pessoas que fazem um trabalho na cidade, mas mais do que isso, preciso discutir para que o projeto não chegue pronto e imposto à população. E a presidência tem feito isso para que a gente aprofunde esse diálogo.
A senhora falou sobre as fiscalizações que estão sendo feitas. Como avalia a gestão de Márcio Corrêa até aqui?
Eu avalio de forma muito positiva, propositiva e de muita competência e trabalho. Nesses 100 primeiros dias, Márcio já começou a mostrar a cara e a que ele veio, o perfil do prefeito que ele é. É um prefeito que está muito mais na rua do que dentro do gabinete; que tem coragem de enfrentar temas difíceis da cidade, como revitalização do Centro, as questões de saúde. Nós vivemos um momento muito delicado da saúde em Anápolis, pois quando Márcio assumiu, tínhamos apenas uma porta aberta para mais de 400 mil habitantes e, no dia primeiro de janeiro, a primeira ação dele foi abrir as portas de um novo hospital para melhorar essa situação. Outra ação de coragem foi trocar a Organização Social que regia a UPA, que é a nossa grande porta aberta, e ele trocou pela má gestão dessa UPA. Ele está também fazendo mutirão de exames e cirurgias, que há muito estava condensado na cidade e tinha uma fila de espera muito grande. A segunda questão importante que ele enfrentou nesses 100 dias, que eu reconheço de forma positiva, foi a questão das vagas de creche. E ele tinha um problema muito sério, porque como ele iria resolver isso a curto prazo? Ele trouxe as salas modulares, usou de gestão para abrir novas salas nas instituições que já havia e, com isso, já entregou mais de mil novas vagas. E a terceira, que é a zeladoria da cidade, que estava horrível. Márcio está tomando conta da cidade, que estava suja, encardida e quem ama Anápolis sofria com aquilo. Ele fez várias operações, chamadas Cidade Limpa, e tem melhorado a cara da cidade. Agora, que são apenas os primeiros 100 dias de gestão, precisamos avançar muito mais, especialmente na saúde, abrir novos leitos, abrir os hospitais que foram abertos de forma muito temerária e que agora foram fechados para resolver problemas técnicos e serão abertos para a população para que a gente possa avançar muito mais. Mas dentro desses 100 dias eu já reconheço um trabalho muito dedicado, competente e que teve avanços muito significativos.
Quais os problemas da cidade a Câmara pode contribuir para resolver?
Eu acredito que todos. A Câmara precisa ter a voz ativa, mesmo que ela não tenha muitas vezes a competência de propor o projeto de lei para fazer a mudança que o Executivo tem, a Câmara representa todos os moradores. Na questão de políticas públicas, por exemplo, foi enviada para a Câmara a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a lei mais importante da cidade neste ano. É um momento de indicar as nossas emendas parlamentares, fazer emendas ao orçamento e sugestões para que possamos avançar nesse sentido. Todas as ações da cidade precisam passar pelo Legislativo para serem amadurecidas. O que a gente precisa é ter uma legislatura, e tem acontecido isso, dedicado a entender esses problemas e avançar neles. Agora estamos fazendo a análise da LDO, de forma muito propositiva, vamos aprofundar essa discussão, porque não queremos votar isso de forma rápida e nem corrida para que possamos realmente avaliar esse orçamento que será muito importante para a cidade de Anápolis.
A grande maioria que o prefeito tem na Câmara não reduz a independência da Casa em relação ao Executivo?
Eu acredito que tenha uma separação muito boa nessa questão. Projetos executivos tiveram discussões acaloradas, mudanças, emendas. Estamos fazendo tudo de uma forma muito democrática e republicana. Ele tem a base porque o projeto dele é sólido e ele tem demonstrado um bom trabalho, isso faz com que os vereadores adiram à base do Executivo para que possamos trabalhar juntos. Mas isso não compromete a independência e nem o poder de fiscalização que o Poder Legislativo tem e todos os vereadores têm. Eu entendo muito bem, sou base do prefeito Márcio Correia, tenho uma visão ideológica parecida e nós trabalhamos juntos, mas eu sei separar muito bem a minha função enquanto presidente da Casa, institucionalmente, para que possamos ter essa Independência entre os poderes.
Como a Câmara se posiciona em relação à disputa entre o Porto Seco e a empresa Aurora pelo serviço alfandegário do Daia?
Nós não fomos citados e nem convidados a nos posicionar quanto a isso. O que entendemos é que precisa ser feito dentro da legalidade que se exige uma operação como essa. As pessoas que vêm investir na cidade são muito bem-vindas, mas é necessário que se observem as questões legais de todo esse trâmite. Parece que foi feito uma denúncia pelo Executivo sobre questões muito sérias e importantes a respeito da instalação dessa empresa e o que se espera é que tudo seja feito de uma forma que seja positiva para a cidade, mas respeitando o devido processo legal.
Quais os projetos do Avante para 2026? A senhora deve sair candidata a deputada federal?
Não, eu estou focada no meu mandato como presidente da Câmara, focada no meu mandato como vereadora, mas o Avante deve ter, sim, candidatos da cidade de Anápolis, tanto a deputado federal como estadual. O partido tem crescido muito, tenho feito filiações, aproximado de homens e mulheres que querem representar o partido no nível estadual e federal e avançando nessa questão. O meu objetivo é fortalecer o partido no município para que possamos fazer com que o partido cresça cada vez mais. E eu fiquei muito feliz com a Avante, que tem uma plataforma de qualificação dos seus filiados, é um partido que cresce muito no estado de Goiás e no Brasil e estamos com uma expectativa muito pouca para 2026. Estamos preparando um ato de filiação agora para o primeiro semestre, no segundo semestre, vamos trabalhar a qualificação dos nossos filiados e, no início do ano que vem, que começa a fase de pré-campanha e pré-filiação, é que vamos avaliar a chapa para avançar, até porque as chapas nesse momento são estaduais e precisam ser feitas alinhadas com o projeto estadual. No momento, em 2025, estou focada no fortalecimento do partido no município.
A ida do Bruno Peixoto para o partido já está certa?
Nós temos uma expectativa muito grande da vinda do Bruno Peixoto. Não está certa ainda, porque isso depende dele, do partido que ele está, mas o nosso está de portas abertas para receber o grande líder político, que é o Bruno Peixoto. A minha admiração pelo trabalho que ele tem feito à frente da Assembleia e o trabalho dele como político, uma pessoa sempre muito alinhada, que faz parte da história da vida política de Goiânia. É um político muito jovem, uma grande revelação no estado de Goiás e o Avante ficaria muito honrado de ter ele como a nossa maior liderança dentro do estado de Goiás.
Gustavo Mendanha pode ser candidato ao senado pelo Avante?
Existem conversas nesse sentido e o Avante recebe de forma muito positiva. O partido ser cotado para receber essas personalidades políticas estaduais de grande recall político, de trabalho prestado no estado de Goiás, engrandece muito o nosso partido. Mas ainda está muito longe da eleição, são apenas bastidores políticos, mas eu, enquanto presidente municipal do Avante de Anápolis, recebo de forma muito positiva. Estamos de portas abertas para receber essas lideranças.